quinta-feira, outubro 28, 2004

glorioso victor

. ontem vi the scarlet letter de Sjostrom. Vale a pena escrever mais?

la vie est à nous

nos últimos três dias, tenho tropeçado no título deste filme de jean renoir. Faz-me lembrar aquele cartaz de uma páscoa passada, "reclama a tua vida" dizia. Ainda não fiz as pazes com o mundo, mas pode ser um princípio.

quarta-feira, outubro 20, 2004

the world is full of crashing bores

os mecanismos de notoriedade social promovem claramente um conjunto de pessoas cujo somatório de intelecto demonstra cabalmente o conceito matemático de conjunto vazio. Deve ser por isso que me apaixonei por morrissey desde o final dos 80, não porque as suas letras nos transportem para o "bright side of life" mas porque são a plena constatação que chove todos os dias na vida de quem procura algo mais do que exibir umas medalhitas no peito, testemunho de grandes feitos em prol do canibalismo capitalista. São 20h30 e ainda estou no escritório a contribuir para o sucesso (profissional) e riqueza (pessoal) de uma cambada de seres ("so scared to show Intelligence it might smear their lovely career") que nem merecem o ar que respiram. Em suma, fazendo minhas as palavras do bardo: "this world - I am afraid is designed for crashing bores (I am not one?)"

o génio de Sjöström

a cinemateca organiza este mês um ciclo dedicado à fascinante obra deste cineasta sueco. Sjöström é um dos pais da sétima arte (mentor de bergman) e um dos seus maiores profetas. Do pouco que conheço da sua obra ficaram alguns registos cinematográficos dos mais belos de que guardo memória. Frequência obrigatória para todos os cinéfilos que sonham com um mundo livre das majors de hollywood e com filmes que nos enamorem a alma

used to be a sweet boy

existem dias em que acordamos com a sensação que nos falta algo, que perdemos qualquer coisa mas não sabemos o quê nem aonde. A culpa não pode ser da chuva, será certamente do morrissey : "Used to be a sweet boy / Holding so tightly / to daddy’s hand / but that was all /in some distant land"

terça-feira, outubro 19, 2004

solidão

um pedido sobre a felicidade, fez-te lembrar quando Calígula exigiu a lua, os teus lábios tremeram e pensaste naquela praia tão distante, quando desconhecias a corrupção da matéria e ainda acreditavas que a verdade se escondia por detrás de um olhar. já deixaste a tua casa à d-e-m-a-s-i-a-d-o t-e-m-p-o mas esqueceste qual o destino e chegou a demência. Alguém no templo falava sobre os pilares da religião mas o fogo consumia-te e quando contemplavas aquele edifício recordaste: “Roma ardia e Nero dedilhava a lira”

segunda-feira, outubro 18, 2004

la couleur de mes rêves

ontem adormeci embalado por paisagens como esta

domingo, outubro 17, 2004

astral weeks

parece que o van morrison teve a sua obra prima quando apenas contava 23 anos. Enquanto oiço a primeira faixa daquele álbum memorável penso meu caro sebastião que a década que acompanhou o teu nascimento é de facto inigualável. if I ventured in the slipstream / between the viaducts of your dream / where immobile steel rims crack / and the ditch in the back roads stop /could you find me? /would you kiss-a my eyes? /to lay me down /in silence easy /to be born again /to be born again

sexta-feira, outubro 15, 2004

bonjour tristesse

a solidão chega como convidado de recurso para preencher um espaço vago numa festa que no nosso íntimo nunca desejámos... não nos apercebemos da ausência até ao momento em que o "onde estás?" não encontra resposta. as noites que passamos tentando captar todos os pormenores daquela sala que agora está às escuras, o desejo de corrermos pela praia despojados de tudo menos do nosso corpo e depois sentir aquela água que nos gela os ossos e nos faz sentir vivos. a incapacidade de ler o rosto dos outros num momento e de ler o nosso próprio mais tarde, o deleite daquelas maratonas de pensamento em que abordamos a liberdade da morte e em cada dia que passa, destruímos uma pequena parte daquela língua de terra (cada vez menor) que ainda une a nossa península a um continente que não queremos visitar ("o corpo é um nome rodeado de mar por todos os lados")

quinta-feira, outubro 14, 2004

consolação

julgamos que a chegada do amor anuncia o fim da solidão, mas esquecemo-nos que nos conduz para aquele terror já esquecido. No início tememos pronunciar determinadas palavras que gritamos debaixo de água enquanto procuramos o rosto daquele que nos cativou. Eis que chega o calor e rendemo-nos incondicionalmente ao que antes temíamos para depois nos apercebermos que apenas passámos a partilhar a nossa desolação. Existia de facto uma verdade terrível nas palavras daquele belo jovem suicida: “a nossa necessidade de consolação é impossível de satisfazer?”

quarta-feira, outubro 13, 2004

Sedutor

Já devias saber os pormenores da morte de casanova aquele rosto ausente o seu estranho sorriso agarrado às recordações do que nunca tinha possuido contudo, nunca outra mão lhe voltou a aflorar a pele um grão de areia dizes tu dos momentos em que foste verdadeiramente feliz e por uma vez te sentiste tocado nas ruinas da velha catedral de Alba no entretanto gastaste o teu tempo em romarias entre igrejas barrocas